terça-feira, 17 de junho de 2014

Imperatriz Menen e a essência da Mulher Criadora


A Imperatriz Menen é o exemplo máximo para as Mulheres Rastafaris, pois ela é o exemplo a ser seguido por aquelas mulheres que buscam serem Rainhas de acordo com os princípios e costumes originais/africanos.


Imperatriz Menen Asfaw [1] nasceu em 25 de março de 1883, na Etiópia. Assim como Haile Selassie, é descendente da antiga linhagem Real Salomônica Etíope, através de Menelik 1º, filho da Rainha Makeda de Sabá com o Rei Salomão. Além disso, também descende da linhagem dos nobres Etíopes Muçulmanos. Mas sua religião professada era a predominante na Etiópia, a Fé Cristã Ortodoxa.

Como uma mulher pertencente a uma dinastia nobre, teve uma educação destinada aos filhos e filhas dos antigos Senhores e Duques, recebendo um instrutor em casa. Teve uma boa educação de leitura e escrita de sua língua nativa. Além da educação acadêmica que recebeu, aprendeu a tradição etíope de tecer, e economia do lar.

Em 1911, Menen casou-se com Ras Tafari Makonnen. Em 02 de Novembro de 1930 assumiu o trono da Etiópia ao Seu lado. Era costume na Etiópia que a Imperatriz fosse coroada três dias após a coroação do Imperador. Ela não era considerada uma governante, mas apenas esposa do Imperador. Além de não receber os procedimentos tradicionais religiosos da Igreja, sendo coroada em casa pelo próprio Imperador de forma simbólica. Como nos conta o próprio Imperador Haile Selassie (1999), no trecho abaixo de Sua autobiografia, em Sua coroação, Eles mudaram esse protocolo.


“[...] Sucessivamente o serviço de coroação da Imperatriz começou. O procedimento para a entronização da Imperatriz é hoje muito diferente do que costumava ser anteriormente. Segundo nosso estudo do histórico da prática inicial, a Imperatriz não era ungida com o óleo da realeza, alegando-se que ela não compartilhava da regência com o Imperador. A coroa, sendo meramente simbólica, era bem pequena. Era no palácio que o Imperador colocava a coroa na cabeça dela, não na igreja. Isso ocorria no terceiro dia, porque não era permitido que ela fosse coroada no mesmo dia que o Imperador. Mas agora foi determinado, depois de consulta, que o Arcebispo deveria coroá-la e colocar o anel de diamante em seu dedo, e isso deveria acontecer juntamente com a coroação do Imperador [...]” (SELASSIE, 1999)


Imperatriz Menen foi coroada instantes após a coroação de Haile Selassie, recebendo as honrarias e sendo ungida pelo Arcebispo da Igreja Ortodoxa. Dessa forma, Imperatriz Menen assumiu política, religiosa e espiritualmente o trono Etíope, o governo da Nação e a Cabeça da Igreja, lado a lado ao Imperador Haile Selassie. Foi homenageada pelas lideranças de 72 nações, e recebeu ao lado do Imperador, todos os títulos destinados a Ele na Coroação, sendo Eles Um só corpo.

Durante Seu governo, Imperatriz Menen deu uma atenção especial à educação e à saúde, criando escolas técnicas como a de artesanato “Tafari Makonnem” e a de enfermagem “Imperatriz Menen”.

Ela lembrava em seus discursos e ações que as mulheres não poderiam ser esquecidas no que se trata à sua formação acadêmica. Apesar da época em que viveu, e da tradição conservadora de sua nação, Imperatriz Menen sempre garantiu que as mulheres tivessem iguais oportunidades de se graduar para não ficarem para traz com relação aos homens. Ela sabia do potencial que poderiam atingir todas as jovens mulheres que tivessem oportunidades de se graduar.


“[...] Sua Majestade Imperial Rei dos Reis acredita que não há nada melhor para o desenvolvimento do progresso do País, do que o desenvolvimento da educação. A este respeito, na sua vontade, ele construiu muitas escolas para meninos. Mas se as meninas são deixadas para trás, sem ter ensino regular, podem ter desvantagens [...]
Muitas jovens têm a oportunidade de serem promovidas ao nível mais elevado de educação após graduada nesta escola. Muitas delas estão trabalhando em escritórios do governo e em organizações privadas. Se as jovens do meu país têm a chance de ter uma educação culta, espero que elas possam contribuir muito, o que se espera delas como de seus irmãos [...]” (ASFAW, 1957)


Assim como Maria veio para trazer a purificação de todas as Mulheres, Imperatriz Menen veio mostrar o papel e a posição da Mulher no nosso tempo. Na época em que a Imperatriz Menen foi coroada ao lado do Imperador Haile Selassie, as mulheres eram tratadas como de segunda categoria, em posições subalternas, em especial a Mulher Negra, até pouco tempo escravizada na maior parte do mundo, e ainda em condições de trabalho subumanos, não muito diferentes das relações de trabalho escravo. Além das relações de trabalho, as relações domésticas e familiares não a favoreciam em sua dignidade e autonomia. Com relação ao acesso à educação, poucas e raras eram as que acessavam algum nível de graduação escolar. É nesse contexto social que a Imperatriz é corada como Rainha Negra Africana e Soberana ao lado de Sua Majestade O Imperador, mostrando ao mundo o local e a função que uma Mulher deveria assumir.


Sua presença como uma Rainha Africana, nos remete ao princípio da Vida, sendo a África a origem da Humanidade, e a Mulher Africana a Eva Negra, Mãe de toda a Humanidade. Sua imagem relembra a todas as mulheres, em especial as mulheres Negras, sua sacralidade e nobreza. Tendo o Ocidente embranquecido a Sagrada família de Jesus e os Israelitas, emerge da Etiópia uma Santa Rainha Negra, da Linhagem de Davi, defensora da Fé Cristã Ortodoxa.

Seu exemplo de vida é para Homens e Mulheres Rastafaris na força feminina da Criação. A Mulher possui o poder de gerar a vida, de criar e transformar. Conhecer sobre Imperatriz Menen, para os Rastafaris, é perceber a importância do equilíbrio entre o feminino e o masculino, sobre o respeito entre o homem e a mulher e suas funções e papéis complementares. É também um forte exemplo de que a mulher não pode nem deve jamais ser esquecida ou posta em segundo plano, como fazia a sociedade de sua época e em grande parte, mesmo que de forma velada, ainda se faz nos dias de hoje.

Mas independente das modernizações e direitos adquiridos pela mulher moderna, Imperatriz Menen ressalta a natureza da mulher que não muda nas diferenças históricas e culturais, que é sua grande influência e poder educacional. Ela tem o poder de influenciar e ensinar a todos à sua volta como filhos, sejam irmãos, amigos, empregados, pais, etc. Mas é sua instrução, seu conhecimento e sua sabedoria que resultará num efeito positivo ou negativo. Menen assim representa a força, o poder, a influência da mulher sobre sua família, povo, nação, e a humanidade.

Durante a invasão da Etiópia pela Itália em uma tentativa de colonização, Menen discursou pela paz apelando às mulheres do mundo, pois todas as mulheres perdem com a guerra, tanto do lado vencedor, quando do vencido. As mulheres, segundo ela, devem educar seus homens (filhos, irmãos, esposos) de que a guerra não é boa, e devem trabalhar incessantemente pela paz e o fim da guerra, principalmente se ocuparem posições de liderança em suas nações. Enquanto os homens se defrontavam em guerras políticas, ela apelava às mulheres mostrando que, independente de qualquer coisa, a guerra deveria ser evitada. Mas, sobretudo, ela apelava para que as mulheres percebessem sua força e influência em evitar esses conflitos, como principais defensoras da paz, e principais vítimas da guerra:


“[...] Embora as mulheres do mundo estejam vivendo em diferentes países com diferenças climáticas, todas as mulheres estão interligadas com o mesmo desejo e objetivos. Guerra é angústia e um problema da humanidade. O ato da violência e a guerra vitimizam maridos, irmãos e filhos de todas as mulheres do mundo de diferentes países, diferentes raças, religião. Guerra é uma destruição de famílias e pode tornar povos imigrantes. Então, mulheres são contra guerra. Nós sabemos que todas as mães italianas e mulheres sem filhos podem se preocupar com a guerra, visto que a guerra não é boa para nada. Portanto, todas as mulheres que se encontram no mundo devem prevenir a guerra antes que ela traga problemas e angústia. Elas devem colaborar com suas vozes e reclamar para evitar a guerra antes que venha a carnificina em ambos os lados [...]” (ASFAW, 1936).


Nesse discurso apelativo, no qual a Imperatriz rogou às Mulheres do mundo inteiro por União pela Paz, ela nos chama a atenção para a importância da solidariedade feminina. Na deseducação do sistema da babilônia, as mulheres se inserem em um esquema de relações sociais e pessoais em que a disputa e a competição predominam. Nessas relações, os preconceitos, diferenças e julgamentos são utilizados para desqualificar, inferiorizar umas as outras, sejam em relações comuns do dia a dia, até em contexto de relações internacionais entre culturas e nações diferentes. Acima dessas limitações das relações femininas impostas pela deseducação social, a Imperatriz Menen chama a atenção das Mulheres para o poder que têm a União entre elas, o poder revolucionário, transformador e construtor da solidariedade e lealdade entre as mulheres.

 Após a vitória da Etiópia e a expulsão dos italianos de seu território, Imperatriz Menen se dedicou à reconstrução da Etiópia, tratando dos assuntos que diziam respeito diretamente ao povo, visitando e ajudando na manutenção de hospitais, escolas e igrejas. Também realizou um discurso mostrando ao povo a importância da independência, da unidade e da liberdade para um povo, alertando para as estratégias da tentativa de colonização:


“Todos vocês sabem que esse país naturalmente verde e diferente de qualquer outro país Africano, nunca foi colonizado e foi governado somente por seus próprios reis. Depois de várias tentativas de colonização, a Itália propagandeou a guerra. Com essa campanha, a Itália tentou acabar com nossa unidade e dividir nosso povo. Existe alguém que não perdeu um parente durante a guerra? Alguns dos nossos cidadãos foram mortos por enxadas, pás e metralhadoras. Deus permitiu que a Etiópia fosse rapidamente vitoriosa sobre seu inimigo. Nós, os filhos dos cidadãos, sentimos orgulho quando vemos nosso país liberto de qualquer tipo de agressão e nós somos muito gratos ao Todo Poderoso. O povo etíope teve boas lições das experiências passadas, que nos fazem cooperar da mesma maneira que um filho e uma mãe, que se amam mutuamente. Foi isso que fez cada luta etíope pela independência e liberdade do país. Vocês vêem que um povo sem liberdade é uma vítima; como foi visto nos cinco anos de agressão. É verdade que nosso povo não odiava os governantes nativos, desde que mantivessem a língua, costumes e tradição do povo. Mas os italianos tentaram governar de maneira perversa. Durante a agressão, apesar do inimigo matar nosso povo, patriotas foram para o campo de batalha e outros foram para o exílio no exterior. Essa situação surpreendeu o mundo. Minhas senhoras e senhores nativos de Wollo, fomos livres por 3000 anos. Contudo, através da ajuda da Inglaterra e da intensa luta dos filhos da Etiópia, nós libertamos nosso país, nossa bandeira e o Rei da nossa terra mãe. Nós precisamos ser únicos e unidos.” (ASFAW, 1942)


Para as Mulheres Rastafaris Imperatriz Menen representa a sua força, seu poder, sua alegria e missão em ser Mulher. Para os Homens Rastafaris Ela ensina como eles devem tratar as mulheres, percebendo seu papel, suas necessidades e funções. Para ambos, ela inspira o Amor, o respeito, a justiça, o correto a ser feito, independente de ambições, progressos, etc. Sua vida ao lado do Imperador Haile Selassie mostra como uma boa união de respeito e governo lado a lado pode sustentar uma família e uma nação.




[1] A maior parte das informações aqui apresentadas sobre a vida da Imperatriz Menen encontra-se em Livro comemorativo escrito por Yared Gebre Michael, em 25 de março de 1950, por ocasião do aniversário da Imperatriz. 


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texto de Luísa Benjamim

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O Projeto Omega Nyahbinghi visa ressaltar o aspecto Omega (feminino) do Nyahbinghi.

Nyahbinghi representa VIDA. Princípio sem fim. Representa o retorno à vivência original, a resistência a toda a opressão e dominação, a tudo que nos desvia do caminho da Verdade. A maior representação da Vida é a batida do coração. Nas celebrações Rastafaris os tambores africanos representam através de seus toques a batida do coração-Vida-Nyahbinghi.

Assim, esse projeto consiste em ressaltar e fortalecer o feminino da vivência Rastafari, em elevar e destacar a Mulher Original – Rainha Omega I!

Esse projeto se faz importante pelo grande desconhecimento existente, em especial no Brasil, do que é e de quem é a Mulher Rastafari, e a que essa expressão se refere. O que acaba passando a impressão, para muitos, de que Rastafari é um Movimento especialmente masculino, quando não machista, o que não é uma verdade.

Omega Nyahbinghi é um projeto desenvolvido por Sistas Rastafaris no Brasil.

Objetivos:

Difundir e vivenciar, onde estivermos, os ensinamentos, vida e exemplo de Sua Majestade Imperial Imperatriz Menen I, em Seu aspecto Alfa e Omega, ao lado de Sua Majestade Imperial Imperador Haile Selassie I, Respeito, Equilíbrio, Amor.

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